Minha homenagem, sincera, ao povo gaúcho, que aprendi admirar nos 16 anos em que vivi em Passo Fundo e Porto Alegre.
João Carlos Matias 29.05.2024
De repente, a natureza mostrou sua força e destruiu casas, ruas e cidades e feriu forte o estado do Rio Grande do Sul.
Não se sabe que motivos tantos teve pra isso. De certeza restaram claras a grandeza do Rio Grande, pelo brio de seu povo, e a enorme solidariedade de quem o respeita.
A solidariedade não foi compaixão por parte de quem doou a água, nem foi por piedade de quem doou o cobertor. Foi a obrigação de quem muito deve ao gaúcho, por sua luta, pela riqueza que distribuiu ao Brasil, pelos exemplos de amor à terra, ao galpão, ao lar, ao amigo; pela cultura que enfeita o Sul desse imenso país; pela história farroupilha e pela herança missioneira.
O laço, as rédeas, a adaga, o estribo e os pelegos, guardados nos velhos golpões, podem ter sido arrastados pela correnteza que deixou, furiosa, os leitos dos rios, mas não se perderam, porque continuam moldando a alma do gaúcho e sustentado seu corpo encharcado, para que não se dobre. E, de fato, nem a lama, nem a água – tumbas de tantos corpos – dobraram o gaúcho ou tornaram menor o Rio Grande, que continua enorme, ainda maior, porque agora tem a seu lado todos os bons brasileiros. O gaúcho é, hoje, o que de melhor tem o Brasil, e todos os bons brasileiros são, agora, gaúchos.
O povo sulriograndense mostrou, nessa tragédia, que não é digno de piedade, mas de admiração e respeito. Solidariedade, sim; compaixão, jamais. O Rio Grande vai nos ensinar como se refazer a casa, a rua, a cidade e o estado. Quem se fez grande pelo trabalho, e não por nascimento, grande sempre será. E o Rio Grande, depois da lama e da enchente, será ainda maior no coração de todos aqueles brasileiros que só querem uma pátria justa para aqui criarem seus filhos em liberdade.